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06/11/2011

A Noie dos Longos Punhais



30 de junho de 1934 – A noite dos Longos Punhais
Por Adriano De Toni  
Dentre os milhares de “camisas marrons”, que faziam parte das SA (Sturmabteilung), incluíam-se muitos membros que acreditaram realmente ‘no socialismo’ , inicialmente pregado pelo Partido do Nacional Socialismo, queriam transformar-se em um verdadeiro exército revolucionário, ao invés de apenas fazer parte do exército alemão regular.  
Mas ao alto-comando do exército e a seus comandantes conservadores, este exército potencial de SA´s , representava uma ameaça às antigas tradições militares alemãs e aos privilégios, que Adolf Hitler, havia prometido os generais, onde restauraria toda a glória militar e quebraria as “imposições” do tratado de Versalhes, que limitava o exército a um efetivo de 100.000 homens e impedia sua modernização.  
Para Adolf Hitler, o comportamento do SA, era um problema que ameaçava agora, sua própria sobrevivência política e o futuro inteiro do movimento nazista.  
Os sentimentos anticapitalistas e de antitradição, freqüentemente expressados por líderes da SA, e ecoados por seus seguidores, também causou enorme preocupação aos grandes empresários, que haviam ajudado Hitler a assumir o poder. Hitler havia prometido que derrubaria o movimento de União Comercial e o Marxista, entretanto, agora seus próprios homens, com sua conversa de “Segunda Revolução”, soavam mais como os marxistas que estes mesmos. (A Primeira Revolução, é a ascensão do Nazismo ao poder, em meados de 1933.).  
A SA, que tinha como líder, Ernst Röhm, havia sido um dos principais instrumentos de repressão, no início da ambiciosa ascensão de Hitler, usando de extrema violência para conter manifestações nas ruas e para “silenciar” oponentes políticos. Entretanto, em 1934, um ano depois que Hitler assumiu o poder, a utilidade da SA, como uma força extremista, que usava de meios violentos para obter êxito, vinha perdendo sua eficácia, tendo em vista que Hitler necessitava agora da sustentação dos generais do exército e dos líderes de grandes indústrias, para reconstruir a Alemanha, após a Grande Depressão, reequipar as forças armadas e realizar finalmente seu objetivo, de anexar territórios para o povo alemão.
A classe média alemã, também temia e não simpatizava com os integrantes das SA, por causa de seu arrogante comportamento de gângsteres, tal como extorquir dinheiro dos proprietários locais de lojas, dirigindo pelas ruas com carros novos extravagantes e, como era noticiado com freqüência, espancando e assassinando civis inocentes, após beberem em exagero.
No fim de fevereiro de 1934, Hitler realizou uma reunião entre a SA e líderes do exército, incluindo Röhm e o ministro da defesa, o general Werner von Blomberg. Nesta reunião, Hitler informou a Röhm, qua a SA não seria uma força militar, mas seria limitada a determinadas funções políticas. Na presença de Hitler, Röhm deu seu aval e assinou um acordo com Blomberg.  
Entretanto, Röhm deixou logo saber que, não tinha nenhuma intenção de manter o acordo. Em abril convocou corajosamente uma conferência de imprensa e proclamou:  
“A SA é a Revolução Nacional Socialista!!”  
Dentro da SA, àquela época, havia uma divisão altamente disciplinada, denominada SS (Shutzstaffel), que havia sido criada em 1925, como guarda pessoal de Hitler. O comandante da SS, Heinrich Himmler, juntamente com seu segundo-em-comando, Reinhard Heydrich, e Hermann Göring, começaram a traçar um plano de ação a favor de Hitler, contra seu velho camarada Röhm, esperando obter alguma vantagem com sua queda.  
No dia 04 de junho, Hitler e Röhm tiveram uma reunião confidencial, que durou cinco horas, indo até a meia-noite. Alguns dias mais tarde, Röhm anunciou que tiraria férias para tratar de “doenças pessoais” e a SA inteira estaria de licença até o mês de julho. Foi marcada também uma conferência dos líderes da SA, para junho 30, em um sítio, nos arredores de Munique, onde Hitler prometeu ouvir às reinvidicações da SA. Porém, em 17 de junho, o vice-chanceler Franz von Papen, que ajudou Hitler a assumir a chancelaria, deixou a todos espantados, fazendo um discurso criticando o comportamento anti-intelectual da SA e denunciando excessos, tais como a censura da imprensa. Papen também focalizou na possibilidade de uma “Segunda Revolução”, apregoada por Röhm e pela SA e incitou Hitler a por um fim a isso tudo, perguntando: – Teremos nós que passarmos por uma Revolução Anti-Marxista, para pormos em execução um programa marxista?  
Seu discurso aumentou drasticamente a tensão entre líderes do exército e líderes do SA e ameaçou ainda mais a posição de Hitler. Mas naquele momento, Hitler hesitava em atacar seu velho camarada Röhm. Alguns dias mais tarde, em 21 de junho, Hitler foi visitar o presidente, Paul von Hindenburg, em sua residência. Hindenburg estava com sua saúde precária e confinado a uma cadeira de rodas. O velho cavalheiro e o ministro da defesa, informaram a Hitler, que o problema da SA deveria ser resolvido ou o presidente declararia simplesmente a lei marcial, e deixar o exército alemão comandar o país, terminando desta forma com o regime nazista.
 
Entretanto, Himmler e Heydrich, espalharam falsos boatos, que Röhm e a SA planejavam um golpe de estado (putsch), para assumir o poder.  
A 25 de junho, o exército alemão foi colocado em alerta, mas posteriormente seria cancelado e, as tropas foram confinadas aos acampamentos. Um acordo secreto havia sido tratado entre Himmler e generais do exército, assegurando a cooperação entre os SS e o exército durante a ação contra as SA. O exército forneceria armas e toda a sustentação necessária, mas remanesceria nos acampamentos e deixaria os SS fazerem as ações necessárias.  
Na quinta-feira, 28 de junho, Hitler, Göring, e Goebbels, foram ao casamento de Gauleiter Josef Terboven em Essen. Hitler foi informado por telefone que havia a possibilidade de um putsch por parte de Röhm e que também havia a possibilidade de uma revolta por influentes conservadores não-nazistas, que queriam que Hindenburg declarasse a lei marcial e retirassem Hitler e do governo. Hitler enviou então Göring para Berlim, a fim de dialogar com a SA e os líderes conservadores. Os SS foram postos em alerta máximo.
Sexta-feira, 29 de junho, Hitler fez uma excursão programada para a inspeção de um campo de trabalho e foi então hospedar-se em um hotel nas proximidades de Bonn, para pernoite. Himmler, então o informara, através de um telefonema, que as tropas da SA, agrupadas em Munique, sabendo da vinda de Hitler, haviam feito varias ações nas ruas. Hitler decide então voar a Munique, para por fim à rebelião e confrontar-se com Röhm e outros líderes da SA, que estavam hospedados em Bad Wiessee, um resost nas proximidades de Munique.  
Chegando em Munique perto do alvorecer do sábado, 30 de junho 30, Hitler requisitou primeiramente a prisão dos SA estavam no Quartel-General, em seguida, prosseguiu ao prédio do Ministério do Interior, onde, após a prisão de do comandante da SA de Munique, num gesto de histeria, arrancou-lhe a insígnia do uniforme.  
Em seguida, o avanço foi contra Röhm. Uma coluna das tropas e carros, onde estavam Hitler, Rudolf Hess, e outros, rapidamente seguiram em direção ao hotel onde estava Röhm e seus homens. Nesta ocasião, como foi relatado freqüentemente (confirmado em parte pelos nazistas), Hitler chegou ao hotel aproximadamente às 6:30 a.m. e adentrou com uma pistola em punho, para prender Röhm e outros líderes da SA. Entretanto, foi mais provável que o hotel foi tomado primeiramente pelos SS, antes de Hitler aproximar-se. Hitler então confrontou Röhm e os outros, enviando-os à prisão de Stadelheim, onde seriam mais tarde mortos pelos SS.  
Uma exceção foi feita a Edmund Heines, um líder da SA, que fora encontrado na cama com um rapaz. Quando Hitler soube de tal fato, ordenou a execução imediata, ainda no hotel.  
Um grande número de líderes da SA, incluindo Röhm, era homossexual. Antes da prisão, Hitler ignorou na maior parte das vezes este comportamento, por causa da necessidade do uso da SA durante sua ascensão para o poder, entretanto, sua utilidade agora havia desaparecido e mais tarde, a conduta homossexual seria usada em parte, como desculpa para os assassinatos.  
Manhã de sábado, aproximadamente às 10:00 horas, uma ligação telefônica de Hitler, em Munique, a Göring, em Berlim, com a palavra código ‘ Kolibri ‘ (beija-flor), desencadeou uma onda de assassinatos violentos em Berlim e em outras 20 cidades. Os esquadrões da execução dos SS, junto com a Gestapo de Göring, perseguiram e assassinaram todos os líderes da SA e qualquer outro, de uma lista onde relacionavam-se inimigos políticos do Reich (A já conhecida Lista do Reich de pessoas não desejadas).  
Incluído na lista: Gustav von Kahr, que tinha se oposto a Hitler durante o Putsch de 1923 – encontrado morto a punhaladas, próximo a Dachau; Father Bernhard Stempfle, que havia escrito a dedicatória para o livro Mein Kampf, de Hitler, e sabia demasiadamente demais sobre ele, foi morto a tiros; Kurt von Schleicher, ex-chanceler da Alemanha e mestre em intrigas políticas, auxiliou Hitler a assumir a chancelaria, foi morto a tiros juntamente com sua esposa; Gregor Strasser, um dos membros fundadores do partido nazi e o segundo em importância no partido, imediatamente após Hitler; Karl Ernst, líder da SA em Berlim, que havia sido envolvido no incêndio do prédio do Reichstag, em fevereiro de 1933; Secretário de imprensa do vice-chanceler Papen, o líder católico Dr. Erich Klausener.  
Na noite de sábado, Hitler voou para Berlim e estava sendo aguardado no aeroporto por Himmler e Göring, em uma cena descrita mais tarde por Hans Gisevius, um oficial da Gestapo:  
“À sua maneira, afastado da frota de automóveis, uns 70 metros, Hitler parou para conversar com Göring e Himmler. Aparentemente não poderia esperar alguns minutos até que alcançar a chancelaria… de um de seus bolsos, Himmler retirou uma longa lista amassada. Hitler leu-a completamente, enquanto Göring e Himmler sussurraram incessantemente em sua orelha. Nós podíamos ver o dedo de Hitler abaixar lentamente na folha de papel. Pausou então por um momento em um dos nomes. Nessa ocasião, os dois conspiradores sussurraram com mais excitação. De repente Hitler balançou sua cabeça. Havia uma emoção muito forte, muita raiva no gesto, que todos puderam observar nele… finalmente que se moveram em direção aos carros, Hitler na frente, seguido por Göring e por Himmler. Hitler andava ainda com o mesmo passo lento. Pelo contraste, os dois que estavam “manchados de sangue”, a seu lado pareceram mais vívidos… “  
Quanto para a Ernst Röhm – numa ordem direta de Hitler, foi ordenado que fosse dada uma pistola contendo uma única bala, para que se suicidasse, mas este se recusando disse: “-Se eu devo ser morto, o próprio Adolf deveria fazê-lo.” Dois oficiais dos SS, um deles era Theodore Eicke, comandante dos Totenkopf (caveiras) estavam em Dachau, entraram na cela de Röhm, e passados quinze minutos ouviu-se um disparo. Reportaram posteriormente, as últimas palavras de Röhm, que foram:“Mein Führer, mein Führer!”  
Na noite de domingo, dia primeiro de julho, enquanto ainda estavam ocorrendo algumas execuções, Hitler ofereceu um chá aos membros do Gabinete Governamental e suas famílias, com a intenção de mostrar que a situação estava voltando ao que era normal anteriormente.  
Às 4:00 horas da segunda-feira, 02 de julho, a remoção sangrenta havia terminado. O número exato dos assassinatos é desconhecido, porque os documentos originais da Gestapo que se relacionam ao fato, foram destruídos. As estimativas variam entre 200/250 a 1.000 ou mais pessoas. Menos da metade de pessoas assassinadas, eram realmente oficiais da SA.  
Em um dos casos, um homem chamado Willi Schmidt, estava em casa tocando seu cello. Quatro homens da SS tocaram a campainha, entraram na casa e levaram-no, deixando sua esposa e três crianças para trás. Equivocadamente capturaram o sr. Willi Schmidt, crítico da música de um jornal de Munique, ao invés do outro Willi Schmidt, que constava na lista. Willi Schmidt fora assassinado e posteriormente seu corpo retornou a sua família em um caixão lacrado, com ordens da Gestapo, que não deveria ser aberto.  
A 13 de julho, Hitler discursou no Reichstag, onde anunciou setenta e quatro mortes e as justificou:“Se qualquer um me repreende e pergunta porque eu não recorri às cortes de justiça, tudo que eu posso dizer é isto: Naquela hora eu era responsável pelo destino do povo alemão e, desse modo, eu me transformei no juiz supremo dos alemães.”“Não era nenhum segredo que, esta revolução teria que ser sangrenta; quando nós falarmos deste episódio, nós vamos nos referir como “ A noite dos Longos Punhais”. Todos deve saber, de agora em diante, que quem levantar sua mão para golpear o estado, terá como destino a morte.”  
Proclamando-se o juiz supremo dos povos alemães, Hitler colocou-se de fato acima da lei, fazendo da sua palavra a lei, e instalando assim um sentido permanente do medo nos povos alemães.Algumas semanas depois dos assassinatos, Hitler recompensou os SS, elevando-os para um status independente, como uma organização, A partir daquela ocasião, o líder da SS, o Reichsführer Heinrich Himmler, responderia diretamente a Hitler e a ninguém mais. Reinhard Heydrich, foi promovido a SS Gruppenführer (Tenente-General).  
Os generais alemães, em virtude dos eventos sem precedentes daquela ocasião, alinharam-se a Hitler e, iniciaram a longa jornada que lhes conduziria à conquista do mundo e, que terminaria nas celas de Nuremberg, após a derrota.  
Os “camisas marrons” remanescentes foram introduzidas no exército, depois que Hitler re-introduziu o alistamento militar, em 1935.A organização dos SS, sob comando de Himmler e Heydrich, se expandiria extremamente e transformar-se-ia em instrumento de assassinatos e terror maciços durante toda historia restante do terceiro reich, outros onze anos.
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