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05/10/2011

Chernobil - 25 anos depois...



Os sinais da catástrofe com a usina nuclear na cidade ucraniana de Chernobil ainda permanecerão por séculos. Mas apesar do trauma coletivo na região afetada, as opiniões sobre o uso de energia nuclear ainda se dividem.  
 
Na manhã de 26 de abril de 1986, um experimento mau-sucedido com o sistema de resfriamento mudaria o destino dos moradores de Chernobil, na fronteira com a Bielorrússia. O reator número quatro do complexo nuclear – que naquele momento era símbolo da tecnologia soviética e orgulho socialista – derreteu, explodiu e durante dias lançou grande quantidade de material radioativo na atmosfera.

“Chuva nuclear”
 
 
As autoridades soviéticas foram lacônicas. Os primeiros alertas de índices elevados de radiação vieram de pesquisadores suecos. A notícia espalhou-se rapidamente pela Europa. Mas enquanto na Holanda as vacas foram confinadas e o espinafre foi tirado do mercado, o desfile de 1º de maio na Ucrânia foi realizado com a mesma pompa de sempre, como conta Tamara Smirnova, que morava nas proximidades de Chernobil na época do acidente.  
 
“1º de maio era o Dia do Trabalhador e havia desfiles especiais em cada cidade. As pessoas andavam normalmente pelas ruas, enquanto a chuva nuclear caía sobre nós. Depois de uma semana começaram a distribuir iodo. Mais tarde, nos demos conta do perigo, mas justamente na primeira semana as crianças ainda brincavam ao ar livre."
 
A morte no ar  
 
Gradualmente, foi-se compreendendo a dimensão do desastre e surgiu o pânico. Moradores foram evacuados. Aos 30 anos e com um filho recém-nascido, Tamara considerou ir para outra região da União Soviética. “Em toda parte havia morte no ar”, comenta, falando sobre o perigo invisível. “Aprendi o que é realmente ter medo.”  
 
As opiniões variam sobre as exatas consequências do desastre nuclear em Chernobil. Embora o número oficial de mortos continue em 50, o número de crianças com câncer de tireóide na área ao redor de Chernobil é enorme.  
 
A organização Mundial da Saúde estimou em 2006 que nos próximos anos entre 4000 e 9000 pessoas iriam morrer em consequência da radiação. A organização ambiental Greenpeace acredita que este número seja dez vezes maior. 
 
 
 
Pragmatismo  
 
Apesar disso, 25 anos depois, o pensamento sobre a energia nuclear não é dominado apenas pelo medo, mas também pelo pragmatismo. Como aponta a jornalista holandesa Franka Hummels, autora do livro ‘De Generatorgeneratie’ (A geração gerador), sobre as consequências do desastre de Chernobil na região afetada.  
 
“Logo após a queda da União Soviética, os ucranianos declaram seu país ‘zona livre de energia atômica’, mas ao mesmo tempo tiveram dificuldade em se desfazer de suas usinas nucleares porque não tinham outra alternativa”, diz Hummels. Só em 2001 - por pressão da União Europeia e da comunidade internacional – os outros reatores de Chernobil foram desativados.

Inabitável 
 
O pais vizinho, a Bielorrússia, faz planos para a construção de uma central de energia nuclear. Uma decisão que apesar de delicada, seria necessária para que o país não dependa de gás e petróleo russo no futuro. A dimensão da catástrofe atualmente é mais subestimada do que exagerada pelo regime ditatorial do presidente Alexander Lukashenko, segundo Hummels.  
 
“Na parte da zona proibida que fica na Bielorrússia, área que foi declarada inabitável para sempre pela ONU, acontece no momento inclusive uma ação de repovoamento. Novos moradores são ‘compensados’ pelos riscos à saúde através de aluguel, água e eletricidade gratuitos.”  
 
 
 
Local vulnerável 
 
Ironicamente, a ucraniana Tamara vive há sete anos na Holanda, bem perto da única usina nuclear do país. “É o meu destino”, diz, rindo com certo amargor. “Eu não teria construído uma usina nuclear num lugar vulnerável como este. Ao que parece, o mundo não aprendeu nada 25 anos depois de Chernobil!”  
 
A usina atômica de Chernobil era de fabricação soviética e, portanto, não seria representativa para riscos em outros lugares do mundo, supunha-se. Mas o recente desastre em Fukushima pôs o mundo novamente em confronto com os riscos da energia nuclear. “Também se pensava que a tecnologia e a segurança no Japão fossem muito bem calculadas. Não acredito que a situação na Holanda seja mais segura”, diz Tamara.  
 
Assim como o desastre de Chernobil, Fukushima provocou debates na Holanda sobre o uso de energia nuclear, mas não se chegou a novas conclusões. O atual governo quer que a construção de uma nova usina, já planejada, siga em frente.
 
 
 
 
 
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